sexta-feira, 15 de junho de 2012

Acordos de Bicesse

É com muito desagrado que afirmo que por mais que tenha tentado fugir desse assunto, ele sempre perseguiu-me. Fiz de tudo, mas não deu. Faz parte do meu quotidiano, faz parte da minha vida. Afinal de contas, da política ninguém foge! Precisamos debater mais, encontrar formas de entrar em acordo e assim podermos ter a bendita paz que todos almejamos.

O 4 de Abril chegou, mas parece que as coisas andam meio inalteradas. Por essa razão, tive que fazer algumas mudanças nos assuntos daqui do "Blog". E por mais que pareça impossível, a culpa dessa mudança de rumo deve-se simples e solenemente à vocês! Sim, vocês, mulheres! Mais uma vez, vocês voltaram a mudar a minha vida. Aproveito desde já para dizer que eu refuto-me a falar das angolanas devido ao mundo "externo-planetário" em que elas vivem, tornando impossível compará-las com as mulheres. Está mais do que explicado através das várias teses sócio-científicas apresentadas aqui que Deus fez o homem, a mulher e a angolana. Não necessariamente nessa ordem, pois sabemos que a Eva era angolana.

Pois então, porque razão iria eu me rebelar e começar a politicar de vez?
Simples! É que os homens podem ficar o dia todo a dar sopa, sem fazer nada, olhando para o tecto ou mesmo tirando "kibokolo" do nariz que a sua namorada não o incomodará. Nem um pouquinho. Te deixará quietinho. Entretanto, apartir do momento em que pegas no comando da TV para assistir uma série interessante, um jogo mega envolvente...
No mínimo, queres apenas 30 minutos ou aqueles 90 minutos do jogo só para ti, mas ela não deixa. Quando se trata dum jogo de futebol, é como se ela se recusasse a falar contigo nos intervalos. Ela vai se esconder a espera do momento que precises de paz. O que realmente me deixa entretido, apaixonado e confuso com essa habilidade feminina, é que ela só faz isso quando estás a curtir a cena. Se a suposta atracção televisiva estiver podre, ela vai te deixar. Se estiveres a assistir um Sassame do Kwanza-Sul contra Ferrovia de Benguela, Kambondo de Malanje - Dínamos do Sambizanga, jogos que desafiam todas as leis das posições e do movimento físico de tão lentos que são, onde um remate à baliza permite ao guarda-redes beber um copo de água antes de defender e levar 1 minuto só de salto em direcção à bola; a sua namorada nem vai te olhar. Mas se entra um jogaço, tipo "Zula" contra "Zuata", Os Nús contra Os de Meia... Que lá vem ela, gingando, rebolando, disputando a tua atenção com a TV. Ridículo! Aí, você já sabe, ela quer guerra, quer disputa, quer ver quem é quem.
Todavia, isso a gente já sabe. Isso é o pão nosso de cada dia, todo mundo sabe e fala disso. Isso já nem gera mais confusão.

O que mata qualquer homem, e dá vontade de acabar com o Savimbi que há dentro de qualquer mulher é no momento em que vocês estão na cama, após sérios confrontos entre as forças de libertação nacional e a frente nacionalista, onde muito suor e sangue rolou pelos lençóis, os olhos bem no fundo, sem garra alguma, estás com um sorriso no rosto, do tipo: Ela hoje me sentiu, fogo!
Queres apenas dormir e curtir o sabor da vitória, e de repente começas a ouvir um chiado, um "zum-zum-zum" a vir do fundo, como se estivessem a sintonizar um rádio; na verdade, ela estava mesmo sintonizando um rádio. Rádio 5 a bater naquela lenha, muito relato, você não se aguenta mais, levantas bandeiras da paz, chamas o Durão Barroso, queres assinar não sei quantos acordos com os "kwachas"... E nada! Ao invés dela respeitar o cessar-boca, ela entende que aquele é o grande momento para falar sobre o dia dela, a vida dela, a vida das amigas, segredos, planos, e sei lá mais o quê! Ai uê, "Ngana Zambi lelô", hoje vão matar o teu filho na cama do calvário. Você pausa tipo: "Esperinda", é "memo" agora que você quer falar isso? Você "num tá" a ver já os meus olhos como é que estão?
O pior não é ela falar, mas também pedir a sua intervenção; bem pior ainda, quer discutir a relação.

Vamos Lá Ser Sinceros! Isso é muito gozo e abuso de poder. Será que vocês (mulheres) pensam que a cama é a Jamba? Na cama é para ter paz e prazer. Eu não entendo. Antes de entrarem para as trincheiras, nunca têm nada para dizer. Após o homem já não ter mais forças nem para levantar um dedo... O Vasquinguri começa a entrar no corpo da sua parceira, e só ouves: "blobloblorarararararararra, blababalarararra"... GOOOOOOOOOOOOOOLOOOOOOOOOOOO! O homem acorda espantado e grita: É do Akwá!
Estrilho "guda" que se arranjaste! - Afinal "num" me ouviste, afinal "uououô"!
Alguém tem que morrer, esqueçam esse acordo de pássaros que não voam.

Epá, minhas irmãs, "num" é por "male", mas apostem mais no diazepam depois de tudo e nos deixem dormir em paz!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Mortal Kombat

Sem sombras de dúvidas foi o meu jogo predileto quando era "caçule", naquelas épocas em que mínima volta eu estava a segurar no comando e a varrer os meus "kambas" no jogo. Eu era "memo" estragado no "Mortal Kombat", jogava demais. Bastava ouvir "Round 1" e 10 segundos eram o suficiente para acabar com o adversário.

Todos os santos dias eu jogava. Prática, prática e mais prática. A violência daquele jogo era sensacional. Só me diziam, esse jogo vai te fazer ficar muito violento. É melhor parares, e sei lá mais o quê. Mas como sabem; as pessoas não sabiam o que falavam. Eu sempre fui uma criança dócil.
Porém, já dizia o grande ditado: O povo não mente, só fala à-toa. Eu continuei dócil, mas havia alguém que só acompanhava os meus jogos de longe, mas estava a assumir atitudes um tanto quanto agressivas.

E foi assim que num feio dia eu correndo para ir jogar, depois de ter "matabichado", escorrego, tropeço, bato na parede e espalho o prato e a chávena no chão. No primeiro soar cintilante da loiça batendo no chão, ouvi apenas: "FINISH HIM"! 4 Segundos depois... "Brutality". Alguém fez na vida real o que eu não conseguia fazer no jogo. Fiquei assim por 20 minutos tentando entender o que acontecera. Minha tontura que nunca foi racista, começou pelo preto, passou no branco e terminou num festival de cores. Apanhei uma surra perfeitamente executada, golpes desferidos em pontos vitais de tal forma que o meu corpo teve que parar e pensar antes de começar a sentir as dores. Eu tive que fazer gestão de toque, ou seja, duas mãos para tocar todas as partes do corpo. Não deu! Só consegui dizer duas palavras: Mamã uê!
Mesmo tonto, acertei! Era a minha mãe que havia me voado com um bico do peito puxando de primeira uma combinação de "ashi barai" terminado com "uchi mata" e o resto as minhas câmeras já não fizeram mais referência. Em meio em tanta dor eu só dizia: Minha mãe me batotou, esse código que ela usou, nem existe no jogo. Batoteira!

Mas Vamos Lá Ser Sinceros: Quanto é que custava o jogo de loiça naquela época? Darem-te cabo do cabedal por causa dum copo?! Mas será que naquela época, um copo custava 100 dólares? No top das coisas mais horrorosas que poderias fazer em casa, estava partir um prato, ou um copo. A minha mãe quando ouvisse algo a bater no chão, mandava um sonoro e agudo "uatchá"! Assim "memo" já "Bruça Lee" lhe subiu. Nem vou falar do meu pai, porque é feio hoje em dia dizer que um homem já rugiu com o seu nenê porque ele deixou cair o copo preferido.
Há quem até fugia de casa. Só porque partiu o copo. "Num" era "inda" porque deixou cair a panela cheia de feijão. Era mesmo só um copo, prato, ou chávena vazia. Nem imagino se tivesse vinho lá dentro. Entretanto, continuo sem saber os custos envolvidos. Não há quem não tenha sido sambado da cabeça aos pés por ter partido um prato. E se achas que nunca te aconteceu, lembras-te daquele dia em que não fizeste a cópia e te bateram tipo se atiraste no banheiro da casa-de-banho cheio de água? Yá, nesse dia, 1 minuto da porrada foi pela cópia os outros 59 minutos foram dos copos que andaste a partir e deixaram passar. Estava tudo a cair na tua poupança! Aproveito desde já dizer que agora você sabe porque razão nunca apanhaste tuberculose ou mesmo "jiba", não havia condições propícias para a doença se desenvolver por estarem sempre a pisotearem-te no peito.

Os tempos passaram, e o jogo retorna assumindo uma atitude mais moderna e moderada. Sem o famoso "brutality", sem os combos de 40 golpes. Espelhando perfeitamente os tempos modernos.
Tempos modernos para mim é ver o meu irmão partir um copo e a minha mãe lhe dizer: - Cuidado para não te aleijares, vá a cozinha e traga a pá e a vassoura!
Eu olho de lado, mancomunando com os meus neurônios: Esse "puto" vai apanhar tanto, eu nem vou lhe olhar para ele não vir aqui pedir ajuda. Vou ajeitar-me no cadeirão. Hoje terei o prazer de ver a minha mãe representar a sua ginga "bolachenta".
Tempo vai, tempo vem, tempo vai, tempo vem, o "ndengue" varre aquela lenha; e nada!...
É impressão minha ou alguém aqui "tá a brincá cô vida"? Cadê a bofa? Cadê aquele "acarque saburoso"? Isso é uma brincadeira de mau gosto. Olho para a velha e lhe atiro: "Cumê mamoite", "num" vai sair "a quarquere cuesa"? Até já afastei os cadeirões para salvaguardar o móvel. - Nem com isso! Ou a minha mãe está tipo o novo jogo, mais complacente com o adversário, ou o copo está a custar 1 kwanza. Porque se me deram, é porque era bom. Se era bom, também quero que partilhem com o meu irmão mais novo, porque até, eu não sou egoísta. Continuo dócil.

Me digam só porque razão estão a mudar o sistema educacional rupestre e tradicional! Porquê?! É por isso está tudo a ficar assim. Com pouca idade, esses miúdos já partem a loiça que é uma coisa doida!

Feliz Mês das Crianças!

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Do Beijinho-Beijoca à Cintina

Pausado a pensar em todas as brincadeiras falhadas em que meti-me ao longo da minha infância. Lembro-me que quando mais puto, todos os meus amigos, mas todos "memo", até aquele que eu lhe olhava com desdém, faturavam no Beijinho-Beijoca. Todos! Havia sempre aquele amigo que eu olhava para a cara dele e dizia: Com essa "chipala", esse não vai à lado nenhum. Na verdade ele não ia a lado nenhum. Vinha sim, uma miudinha e lhe tacava um beijo da "bitoca". Eu ficava tipo - Xê, você "num" vê bem? - Mas é que eram todos, menos eu!
Eu até já andava com os dedos todos destrancados para ver se alguém me mandava ir beijar alguém, mas cedo descobri que as que aceitariam que eu as beijasse eram as que fizeram com que até hoje eu usasse óculos, meninas que o meu padrão de beleza estava um pouco acima daquilo que as suas lindas e fofas carinhas poderiam oferecer. Ok, também não era tão mau assim, nenhuma menininha vinha me beijar, então eu ficava aí tipo já só o experiente que não se borrava nesses mambos.
Se beijinho-beijoca eu já travava até cheirar queimado. Nem me perguntei se algum dia brinquei "papá e mamã"! Por favor, não façam isso. Não acho bom partilhar traumas com as outras pessoas.

Daí, saltei para o "futeco".
Se um dia alguém duvidar da minha nacionalidade, eu só lhe direi: "Mô" irmão, "num parla" só muito à-toa, vá buscar uma bola e atire no meu peito.
Desde miúdo que eu sou um prodígio do futebol angolano ("num" é por mal, mas hoje estou a me gabar mesmo), porém nunca descoberto. Era aí que eu dava o show. Eu era tão podre, mas tão podre a jogar bola, que há muito que eu deveria ser titular indiscutível da selecção angolana de futebol. E ainda sou, diga-se de passagem. Já cheguei a ler livros sobre como jogar futebol; para verem bem a gravidade das coisas. E mais uma vez, todos jogavam bem, menos eu.

Agora... Há algo que eu não sei se era brincadeira, ou se era outra lenha qualquer.
O nome? Ir à Cintina!
A cena consistia basicamente em ir cagar na baixa.
Cortamos a transmissão para um pequeno intervalo: Caro leitor, avizinham-se cenas muito fortes. Se você só cresceu na cidade, se você é sensível, se você é frescuroso. Está na hora de fechar a página desse blog e navegar para um outro sítio.

Voltamos à novela de hoje:
O "people" que cresceu nessas "bandulas" de Porto-Amboim, Sumbe, Lobito, Benguela, Lubango... Os frequentadores das valas do Kinaxixi e da Cidadela... Sabem bem do que falo. Nesse exacto momento eles estão a gritar: Ai! "Num" acredito!
Acredite meu irmão.

Nós, os "ndengues" daquela época, tínhamos todos um metabolismo muito acelerado e sincronizado. Logo após do almoço... Cintina "time". A casa-de-banho da casa dos meus avós, por exemplo, estava logo ali. Mas eu e os meus primos (e primas também) dizíamos que na casa-de-banho não "kuyava". Tinha que ser lá! na Cintina, lá na baixa, lá no cemitério "excretal", lá, onde todo o excreto faleceria.

Reuníamo-nos em grupo. Perca de 10 crianças no mínimo. Todos bem empapuçados por causa do pitéu que tinha mais funge do que carne. Era muito funge a se afogar no molho porque na mesa os "kotas" serviam primeiro e quando a panela chegava até aos "caçules", já lá estavas tu com um nó na garganta e vontade de chorar. Passavas a colher na panela e saía um destravado "iiiiiiiiiiih".
Mas lá a gente ia. Tínhamos um conhecimento exacerbado em aritmética. Todo mundo aí delineava o seu perímetro. Essa área é minha. Posição de ataque... E era "créu"!

Detalhe mais importante nisso tudo: Ninguém levava papel higiênico!
Era voltar a subir a montanha, bem nús da nossa vida e descer aquela cena com o rabo acoplado à terra. A gente dizia: Agora é só "escurrular"! E não saía nem uma feridinha. Ficava novinho tipo bunda de bebé.
Mas nem sempre a gente tinha vontade de subir obviamente. Então... Olhos de águia! "Mbora" lá procurar por uma pedra que não tenha sido violentada ainda. E com a pedra mesmo a gente limpava o "dispantintam"! Não havia rapaz, não havia rapariga. Era tudo na Cintina! E lá, nas nossas "carmosines", trocávamos várias ideias. Reclamávamos do tio que limpou toda panela ou do "catumbete" que não saiu bem.
Depois de apedrejar bem as traseiras, a gente se levantava e "qualê" lá lavar a mão?! Por isso é que eu disse. Fecha a página. Acabávamos a cena e íamos pegar numa fruta qualquer em que você mesmo é que subia na árvore para tirar.

Hoje em dia, já grandinhos, passam por mim moças que vi a se esfregarem no chão da Cintina para se soltar do "pelendoce" e que já nem cumprimentam. Ser adulto vos trouxe amnesia, só pode!
Eu passo, e olho, mas que tipo de fezes é que eu tinha na cabeça no lugar dos miolos que me faziam crer que ali era melhor que uma casa-de-banho?

Mas Vamos Lá Ser Sinceros... Isso "memo" era brincadeira?
FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!