domingo, 24 de novembro de 2013

Especial 4 Anos No Ar (Boêmio Incorrigível)



E se o Blog fosse falado e não escrito?
Todas as quintas no Espaço Bahia em Luanda, tudo que não pode ser escrito, é falado!

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A Descoberta - Edição Especial! - 4 Anos no Ar

A vida é uma maravilha quando experimentamos as coisas. Ela é uma alegria quando nos permitimos. Este mundo é infinitamente mais lindo quando descobrimos várias coisas ininterruptamente.
Não nego que adoro descobrir novas coisas todos os anos, todos os meses, todas as semanas e porque não... Todos os dias.

Hoje foi mais um dia de descoberta para mim. A grande magia de uma nova descoberta está no facto de se apoiar à surpresa. Descobrimos muitas coisas maravilhosas quando menos esperamos.
Hoje, durante uma conversa com uns amigos no WhatsApp, eu descobri a verdadeira razão pela qual ensinaram-me a ler. Eu finalmente olhei para o horizonte que a leitura me proporcionava e vi o seu fim.

Foi triste descobrir que o motivo pelo qual aprendi a ler foi para que não conseguisse evitar as mensagens que os meus amigos no WhatsApp enviam que me ordenam a reenviá-las aos outros contactos com o pressuposto de que a desobediência seria punida com coisas horripilantes acontecendo em minha vida. Começam sempre "ah porque se começaste a ler bonhonho...", "não finjas que não estás fioko"; quer dizer até chamam-me de fingido.
Se eu escrever algo aqui relacionado com Deus, sem venerá-lo numa primeira instância, muitos irão dizer que estou a blasfemar, mas Vamos Lá Ser Sinceros, esses que dizem ter o WhatsApp de Jesus estão a "fazê quê?" Ah não, eu sou Jesus e... Sério?! Sério que o meu amigo está a tentar me convencer que é Jesus? Como é que alguém que tem o WhatsApp de Jesus não tem dinheiro nem sabedoria?

Quem me dera ser analfabeto! Se eu fosse analfabeto, aí sim iria "kuyar". Eles como são já os "talos" acesos e sedentos, teriam que sair das suas casas até à minha porta e gritariam:
- Oh Mauro, oh Mauro uê... Se estiveres a ouvir isso é melhor saíres agora mesmo e ir gritar na janela de todos os teus amigos senão todos da tua casa morrerão.
Aquilo, sim, seria bom! Abandonariam os "chats" para espalhar as boas novas nas ruas. Boas novas que anunciam mortes e azares!
Mas também não vou exagerar, totalmente analfabeto não, mas ao menos ser daqueles que soletrasse. Soletrar também só não, tinha que escrever mal também para ficar tipo esses meus amigos do Facebook que só escrevem bem quando fazem "copy and paste" de algo da internet. Com essas qualidades todas, assim que lesse "esse é - se, vê ó -vo, cê é - cê; se vo-cê", pararia logo e diria: Ufa escapei, quase fui praguejado pelo meu próprio amigo!
Só me resta mesmo ficar decepcionado ao perceber que tanto a minha mãe, tanto as minhas professoras da primária me espancaram para que eu lesse inconscientemente mensagens desse tipo. Vou ligar para elas e dizê-las que foram fúteis.

Entretanto, o mais triste mesmo foi descobrir que Angola só está assim porque as pessoas ficam a gastar ajudas divinas para "fatigar" aqueles que leram e não reenviaram as suas mensagens.

domingo, 3 de novembro de 2013

Edição Especial! - 4 Anos no Ar

Oi, eu sou um sincero mentiroso. Foi assim que tudo começou!

Fomos apresentados por uma amiga que tínhamos em comum.
Ela... Ela tinha 1,68 metros de altura, pele lisa, não tinha nem um sinal, acho que nunca caiu; toda impecável. Sua cara era oval, olhos rasgados, lábios volumosos, seu cabelo tinha uns 25 centímetros, era preto; peitos hirtos como um cone, cintura fina, ancas sutis, uma bunda notável e delicada.
Sabia que ela olhava para mim como amigo, não me conhecia ainda como homem. Estava prestes, eu sentia.
Eu era chegado à jogos de sedução. Não me controlava, gostava de me envolver até a cabeça e morrer sufocado. Graças à Deus tinha 70 vezes 7 vidas, tinha vidas suficientes para morrer e ser perdoado na vida a seguir.

Eu não podia, ela não podia, desafio aceite. Eu a queria muito. Já passava a minha língua sutilmente entre os dentes. Esse sempre foi o meu tique quando eu me transformava do que sempre sou ao Boêmio que costumava ser. Isso prometia. Não mergulhava em mares mortos.

Saíamos que era uma coisa louca. A nossa relação nunca foi sexual. Gozávamos de uma química fenomenal que se intensificava a cada dia que passava, principalmente quando dançássemos. Mais ninguém dançava com ela, mais ninguém dançava comigo. Nas festas éramos os dois. Tínhamos vontade de lavar as nossas jeans à seco como se estivessem sujas. Ríamo-nos muito disso. Nos esfregávamos sem maneiras.
Eu gostava de desportos radicais como skydiving, bungee jumping, cliff diving; gostava de coisas que acelerassem os meus batimentos cardíacos.
Ela tinha um óptimo senso de humor, uma vontade de viver que era contagiante, era inteligente, tinha um sorriso lindo, porém quando ela deixasse de sorrir, parecia a pessoa mais séria do mundo. Ela dizia gostar das mesmas coisas que eu, mas a distância. Talvez fizesse um dia, mas não era algo que procurasse avidamente. A ideia de correr riscos a fascinava muito, talvez por isso, a minha companhia era agradável.

Após mais uma das nossas noitadas, deixei-a em casa. Vi-lhe andar. Os vários seres em mim babavam a cada passo que ela dava em direcção a porta. O Boêmio tinha que gritar. Gritou que gostava muito de a ver andar. Ela sorriu; aquele sorriso que para uma mulher tinha muito significado e que para um homem era uma página em branco. Desejava-a por mera demonstração de masculinidade. Não suportava ver uma beldade caminhar pra longe de mim. Infelizmente eu era um bom mulherengo.

Mudança de planos. Decidi esquecer aquela amizade. Iria atacar. Comecei então a demonstrar o que achava ter de melhor. Escrevi para ela, dancei para ela, discursei sobre a minha visão distorcida da vida, chamei-a em casa, cozinhei e servi tudo na mesa. Tudo isso só para a ter na cama ou no sofá. Meu ego disparado dizia: - Ser bom "nê" bom.

Nos beijamos, nos beijamos e nos beijamos. Não houve cama. Só beijos. Eu beijava aquela boca com tanta entrega, mas tanta entrega que eu queria que aquilo chegasse até a alma dela. Queria atingir o coração e o "subcoração" dela.
Como sempre, levei-a para casa, vi-lhe caminhar. Saí daí dando pulos de alegria. Pensei nela toda a noite. Ligava só para dizer que a música "x" ou "y" faziam-me lembrar dela. Voltamos a estar juntos uns dias depois. Ela veio bem descontraída, com um daqueles vestidos que tocavam os calcanhares, destacavam a suavidade dos seus contornos, e abanavam a cada brisa de vento.

Era suposto ser mais um dia normal, mais um dia em que eu iria ter o que sempre desejei. Um homem, uma mulher, uma cama. A única diferença é que naquele dia não havia luz, o presente de sempre da EDEL.
Eu até queria puxar energia, mas ela disse para não perder tempo com isso e chamou-me para o quarto.
Mandou-me beijá-la. Obedeci, atirei-a contra a parede e a apertei na cintura. Beijo forte de arrancar os lábios. O coração dela acelera rapidamente a medida que ia cheirando o pescoço dela como quem precisasse de ar, o cheiro dela era entorpecente, mais convidativo até que os seios. Dois dedos e oops... Tirei o sutiã e a roupa dela começou a voar.

Ela deixou-me pintar o seu corpo só com as mãos, descer até ao vale, escrever sobre a sua intimidade só com um dedo borrado de tinta, fotografar sua silhueta só com a língua e cantar o aroma da sua presença só com o olfato. Estávamos naquele quarto escuro, ela estava posicionada na perpendicular formada pela parede e o armário. Minhas mãos massageavam os grandes lábios enquanto preparava o indicador e o dedo do meio para introduzir. Calmamente introduzi os dois dedos e fazia movimentos para tentar tocar o osso púbico a partir de dentro. Ela parecia gostar. Joguei-a na cama em meio a tanto beijo, e disse-lhe que não havia ar-condicionado, logo, eu iria soar muito. Ela disse-me que era esse o seu objectivo. Agora sim, dançaríamos de verdade.
Mandou-me levantar e ligou a lanterna do telefone. Olhou para mim e disse:
- Tu precisas ver bem o que estás prestes a fazer.
Voltamos ao roça-roça, lá estava eu a ler os mamilos dela em braille. Pedi-lhe que poetizasse. Ela fê-lo. Segurou no que eu tinha de mais excitado no corpo e conduziu-no até si.

O que poucos homens notam, é que a verdadeira sedução começa depois da cama. Pois ter não é fácil, mas manter a expectativa alta e não desapontar, é muito difícil!

Ficamos na conversa, falei bwé sobre mim, sobre a minha repugnância para o que chamam de sociedade conservadora.
Entretanto, quando ela se vestiu, já não era minha. Claro que não era minha. Ela tinha namorado. Tinha que voltar para ele. Até dentro do quarto o beijo era da bochecha. Por mais auto-consciente que eu fosse, essa cena me destruía. Eu já não sabia se era o meu ego que se rebentava ou um sentimento amoroso que se corroía de ciúmes.

Fomos tendo os nossos "vem," até o dia em que houve um vai, com medo de sermos descobertos por sei lá quem. Com medo de darmos bandeira, com medo de não termos resposta para a infame pergunta que quer sempre saber quando isso tudo vai acabar.
Quando ela me disse que tínhamos que parar, eu disse que sim, e que respeitava tudo. Na verdade eu queria lhe voar no peito, mas que desacato é esse?! Só que mantive a calma. Deixei-a partir.
Uma semana e não aguentei. Eu e os meus vários seres queriam ela de volta.
Eu acho que me apaixonei; ou não... Se calhar é só o sentimento de rejeição.

Mandei lixar tudo e forcei um regresso.
Voltamos!
Soube tão bem, mas tão bem que eu deveria ter sussurrado logo ali que eu a amava.
Regressamos aos nossos encontros secretos, ora diários, ora semanais, ora mensais mas nunca anuais. As coisas já andavam pelo pescoço, eu sentia que mais tarde ou mais cedo isso tudo iria chegar até aos meus orifícios nasais. Acho que vou morrer.

Fui à casa dela jantar. Eu já era conhecido pelos pais e a irmã menor com quem ela morava, portanto foi um ambiente leve e muito agradável. Divertimo-nos muito com as conversas. Após o jantar, ela disse que iria à cozinha fazer um bolo.
Minutos depois, ausentei-me da sala e fui ficar com ela na cozinha. Entrei, e encontrei-a fazendo a massa do bolo no balcão. A cozinha estava relativamente mais quente que a sala, porém, mais iluminada... Ela viu-me e disse:
- Pensei que fosses ficar na sala com a minha família. Não achei que fosses ter coragem de vir até aqui.
- Tu bem sabias que eu não demoraria a vir. Dá-me prazer estar onde tu estás.
- Foi muito bom ter-te aqui para jantar.
- Pena que não fui eu quem serviu a tua comida, pena foi mesmo não ter sido no quarto.
- Jura?! Era isso que tu querias?
- É isso que eu quero. Eu quero ser seu mordomo, servir-te todos os dias. Me oferecer à ti em todo o canto que pisarmos. Eu, tu e o nosso desejo.
- Pára, antes que te percas nas palavras e...
Enquanto ela falava, eu reparava atenciosamente nos seus olhos, nos seus lábios, na sua roupa. Estava um pouquinho suja de farinha mas mais sensual do que nunca. Vestia uma blusa preta, uma saia vermelha até ao joelho e estava sem sutiã. Seu cabelo estava solto. Fechei a porta da cozinha de forma silenciosa. Caminhei em direcção à ela. Posicionei-me atrás do seu corpo e o meu pênis excitado encaixou-se no intervalo das suas nádegas evidenciado pelo fio dental que ela vestia. Respirei forte no ouvido dela. Ela apenas apertou a colher que segurava. Seus braços estavam arrepiadíssimos.
Disse-lhe que durante o jantar eu não parava de pensar em beijá-la, que queria muito passar a minha mão na coxa dela, queria cheirá-la toda, tal como estava a fazer naquele momento, cheguei a pensar que ela não fosse permitir que lhe tocasse.
Aquele cheiro doce de floral oriental, com essência de mandarina, bergamonte e pêra me desconcertava. Eu sabia que ela havia posto propositadamente. Era o perfume que eu mais gostava.
Aos poucos, minhas mãos subiam os braços arrepiados em direcção aos seios. Dividi os seios em cada mão, prensei o corpo dela ainda mais sobre o meu corpo. Beijava o pescoço dela lentamente, virei-a. Agora nos olhávamos frente-a-frente. Ela tentava resistir, com medo de que alguém entrasse. Ela não parava de olhar para porta, suas pernas estavam bambas, as suas mãos estavam suadas. Ajoelhei-me, coloquei a minha cabeça dentro da saia. Beijos e carícias aumentavam de intensidade a medida que eu subia a parte interna das suas coxas em direcção ao períneo. Baixei aquele fio dental azul que bloqueava a minha passagem para o prazer. Respirei fundo, sua vagina se expunha levemente húmida. Eu desejava tê-la aquosa. Afastei as pernas de forma delicada, ela inclinou a sua cabeça para trás como se não quisesse ver o que estava prestes a acontecer. Minha língua abandonou minha boca e tocava suavemente o clítoris em movimentos circulares e repetitivos. As mãos que há uns minutos atrás resistiam e travavam o meu avanço, agora cediam, seguravam a minha cabeça mostrando-me o caminho certo à medida que eu tornava-me mais ávido. Sentia uma sede enorme em dar-lhe prazer. Ela mal gemia, mal respirava, seu estômago contraía-se involuntariamente, os pés não se mantinham firmes no chão.
Empurrou-me para longe forçando a parar a tortura a que lhe submetia, deu-me as costas, apoiou a mão esquerda no balcão, baixou a cabeça, esticou totalmente os braços afastando o corpo da pedra, abriu as pernas, a mão direita que estava solta agarrou e levantou a saia; sua cabeça virou-se para trás e com um olhar de demônio ordenou-me:
- Devora-me!
Nunca senti tanta pressão em toda minha vida. Meus batimentos cardíacos aceleraram, meus lábios secaram
Baixei ligeiramente a calça, coloquei a camisinha, voltei a encostar, penetrei-a. Era totalmente diferente de tudo que já havia provado.
A mão que segurava a saia, agora agarrava o meu rabo, suas unhas arranhavam as minhas nádegas, uma das mãos pegava a cintura dela para não sair do ritmo, enquanto a outra mão puxava o cabelo.
Ela deveria conhecer alguma técnica tântrica, a forma como me chupitava era fenomenal. Tive um orgasmo violento e mal podia soltar um som. Deixei uma das minhas vidas aí. Eu era dela.

Nos recompusemos, nossas caras de culpados não saíam do chão, silêncio total. Nos olhamos por alguns segundos e quebramos aquele gelo com sorrisos.
Bem no meio do nada, ela disse:
- Tu sabes o que é acordar e querer logo te ver? Tu sabes o que é ter vontade de ligar para ti a toda hora e não poder? Tu sabes o que eu sinto quando te ouço? Não sabes! Não sabes, mesmo.
Confesso que eu não sabia. O sentimento que me parecia ser tão certo há pouco tempo, estava acobardado. Naquele instante, eu que sempre soube o que falar, mal conseguia pronunciar uma vogal sequer. Minha boca pesava uns tantos quilos. Meu olhar vazio atravessava o corpo dela. Ela apanhou-me totalmente desprevenido.
O que é que tu realmente queres de mim, ela voltou a perguntar. E eu, com aquela cara de bobo, apenas voltei a me aproximar e tentar um beijo que ela gentilmente evitou. Eu me senti em palcos de aranha. Era como se a água que eu tinha na mão estivesse a se escapar.
Tu não queres nada comigo, ela continuou. Tu apenas queres-me aqui para vivermos aquilo que tu chamas de fortes emoções.
Eu juro que ela estava a falar à toa. Eu só não respondia porque as minhas respostas não eram convencionais. Não era nem justo eu dizer ali que eu amava muito a minha namorada também. Sentei-me e não mais abri a boca até o momento em que fui-me embora.

Desde esse dia que os laços dela com o namorado parecem ter se reforçado.
O meu lado sensato questionava os meus objectivos. Eu acabara de conhecer a maior consequência de se envolver com uma mulher comprometida. Depois de tudo ela voltaria para ao que ela chamava de seu. Apesar de não ter isso nos meus planos e pregar a liberdade sexual, eu queria que ela me chamasse de seu, eu queria ela fosse minha. Que levantasse da cama húmida de suor, desfilasse sem folhas só para mim, destituída de qualquer pudor. Mas não, ela levantava-se, vestia, beijava meu rosto, e voltava para o seu. Havia momentos em que me perguntava se eles não estavam embrulhados nos lençóis. Utilizava o máximo da minha capacidade de imaginação para saber quantas vezes eles iam para a cama quando estivessem juntos. Será que com ele tudo também era assim tão baixinho, tão bom, tão sacana? Meus pensamentos não se calavam. Eu estava a ficar paranóico. Queria questioná-la sobre a ternura que ele demonstrava ter, queria saber o quanto ele se entregava, o quanto ele reparava em cada detalhe, será que ele sabia que preto era a cor que ela mais gostava nas suas lingeries? Será que ele começava sempre pela manga e só depois ia ao prato principal? O que é que lhe mantinha tão ligada a ele?
Só que eu não queria as respostas. Eu não queria ouvi-las. Eu nem queria saber de nada. Eu...

A cada instante sentia saudades do perfume dela, a boca dela tinha um aroma especial. Meu mal, talvez, foi fixar-me nos detalhes. Tinha ar de santa, mas jamais foi canonizada. Eu tinha tudo aí na minha cabeça. Aqueles pensamentos fantasmas que a colocavam nua a minha frente e deixavam-me visualizá-la a ser tocada por ele, moíam-me intensamente. Eu não queria que ela termine o que era seu, eu também tinha a minha. Só que aqueles olhos rasgados espalhavam carinho. Aos poucos sentia-me sufocar. Ela só poderia ter nascido com algum feitiço, melhor, ela tinha o feitiço no meio daquele corpo, algures naqueles membros, ela tinha uns lábios que quando chupasse... Chupasse os meus lábios, eu perdia a sanidade. É que tanta ternura deveria ter fel; tanta maravilha deveria ter algum desencanto. Eu sabia? Nem sabia. Já nem sabia. Não era uma mulher comum, ela estava disposta a acabar com as 70 vezes 7 vidas que eu tinha.
Eu poderia até suportar não estar mais com ela tanto quanto eu queria, só não suportava estar a perder terreno para aquele à quem ela dizia amar mais.

A melhor solução então foi parar de delirar ou até mesmo fantasiar e voltar à minha. Aquela a quem eu realmente pertenço.
Com ela eu sentia-me amado. Era como se agora eu soubesse bem o quanto a minha namorada minha amava. Eu sempre tentei não misturar os dois mundos nem perder o foco que tinha sobre a nossa relação. Eu me empenhava mesmo a manter tudo tão bem. Entretanto, devido os dissabores dos últimos dias redobrei a minha atenção.
Sempre gostei de fazer surpresas inesperadas.
Naquele dia, liguei para a minha namorada e disse que estava a chegar. Ela ria-se de alegria, não conseguia esconder a sua excitação. Perguntou-me onde iríamos. Disse-lhe apenas para se preparar.
Cheguei, gritei assim que entrei para a sala. Do fundo, sua voz mandou-me sentar. Era uma tarde friorenta, bastante cinzenta, o céu estava carregado de nuvens, o clima era bem mais do que propício para ficarmos agarrados. Enquanto esperava, decidi jogar um pouco de Candy Crush no telefone dela que estava na mesa. Eu não era mesmo um grande jogador, mais provavelmente iria perder todas as vidas. Ela, como sempre, demorava que era uma coisa doida. Jogo vem, jogo vai e cai uma notificação. Farto de estar a perder, decido me entreter vendo o que havia chegado no telemóvel. Era uma mensagem. Abri e dizia o seguinte:
"Baby, gostaste das rosas? Não vejo a hora de voltar a ver-te."
Inspirei ar, expirei dor! Mas dor mesmo. Meu coração não batia, pulsava. Parecia ficar parado alguns segundos antes de voltar a se mover. Sentia calor apenas no pescoço, os músculos esternocleidomastoideos se contraíram. A força que eu tinha não era suficiente para segurar aquele aparelho; estava a pesar uma tonelada. Pousei o telemóvel, e tirei o meu para ver se eu não havia mandado aquela mensagem por engano. Não era mesmo eu! Só Deus sabia como eu queria desmaiar.

Ela espreitou e disse:
- Venho já!
Só consegui concordar enquanto olhava o chão. Eu estava pálido. Meu lado pré-programado dizia para deixá-la, chamava-me de frouxo. O meu lado analítico dizia para manter a calma, afinal eu era um boêmio e sincero mentiroso, não tinha razões de deixá-la partir. Sinceramente, o cocktail de sentimentos que eu tinha me avisavam que se eu a deixasse, eu iria falecer.
Agora sim tínhamos festa!

Mas deixem-me antes contar como tudo começou entre eu e a minha namorada: