quinta-feira, 8 de maio de 2014

Oops... Partiu!

Ultimamente tenho ouvido muita música antiga. Coisas de 1963 até 1989 só para sentir a alma que os "kotas" colocavam em suas músicas. Eram vozes de verdade, faziam a dor se materializar em algo palpável. Tu ouves a música sobre alguém que a mulher lhe traiu ou lhe abandonou até dá inveja. É tanta penúria que era transmitida que eu "memo" pauso e digo:
- Fogo, também quero sentir isso.
Parece até que não tenho vivido o suficiente. Ao ouvires as reclamações de David Zé ou mesmo as cassetes lentas do Otis Redding, não tem como não perceber que as mulheres de hoje em dia são a toas, "num" são nada!

As mulheres de hoje em dia já não sabem partir um coração em condições. Como é possível você partir o coração de um camelo e ele ainda ter a força e a petulância de cantar os vossos problemas num rap?! Isso é que me deixa "ndikindado!" Ele deveria estar quebrado, destruído, sem forças sequer para cair; ele tem que congelar de tanto calor, você tem que fazer o cabelo dele transpirar, a mágoa dentro dele precisa ser visível, e se possível, palpável. Ele tem que sair do rap pra soul music directo, sem escala, sem nada. As músicas dele não podem passar de 50 bpm. Ele que era armado em "vuzado" e que trocava de "flow" sempre que quisesse, tinha que estar mais lento que o trânsito de Luanda num dia chuvoso. Mas não... Ficam a deixar o gajo como se fosse emprego, vão dando sinais de insatisfação, vão pedindo aumento e depois apresentam a carta de demissão. É claro que ele irá se preparar psicologicamente! Você precisa rebentar com a estabilidade emocional do energúmeno, agarra aquela "mukwenha," atira no chão, pisa, pisa, pisa, pisa, maltrata até virar pó! Ele tem que ter uma trombose, a boca tem que entortar que nem a do Stallone; pois, nós precisamos de cantores doridos, artistas magoados, leões feridos... Só assim iremos ter o mesmo gosto que antigamente. Hoje em dia dizem cantar o que vivem e pouco ou nada nos emociona porque as mulheres como fonte de sabedoria e perdição não têm desempenhado um bom papel. Gostam de deixar esses "jimbuijis" seguros demais! É óbvio que eles não terão assuntos sentimentais para cantar e mesmo aqueles que cantem, não iremos sentir nada por ser tudo encenação. Sejam lá mulheres de verdade e rebentem masé com a muxima desses pronunciadores de palavras em cima dum "beat."

domingo, 4 de maio de 2014

Mãe Polícia, Filho Ladrão

- Uauê... O Mauro mudou, o Mauro mudou, tia! O Mauro mudou! - Assim gritavam aqueles que passavam pelo corredor do meu andar no prédio 186 da Avenida Brasil.
Era tanto tumulto que minha mãe acabou se apercebendo. Saiu a correr e encontrou uma miniatura de meio metro a dar o show nú em piloto na entrada do 6º andar. Sob o efeito supersónico da corrida dela, não percebi quando fui removido de fora para dentro. Ela ficou 10 segundos calada. Embora até hoje eu acredite que tivesse sido 30 minutos de silêncio. Depois daquela demora abismal para se pronunciar sobre a minha performance pública, ela agiu como qualquer outra mãe agiria. Agachou-se até à minha altura, despiu meu ser com o seu olhar perfurador e tocou a minha alma. Sim... Minha mãe tinha aquele dom de nunca mexer com o meu físico. Ela mexia com o meu psicológico! Enquanto ela olhava ardentemente para o seu rebento, eu transpirava quilolitros de suor num dia em que nem estava assim tanto sol lá fora. Aí... Aí eu percebi que estava em palcos de aranha, estava feito ao bife e que estava mais do que certo que iriam brincar com o meu boneco, o meu corpo já não me pertencia. Ela começou então a conversar comigo com uma "granda" galheta da cara! Aquela grelha foi tão bem dada que eu não fui pra frente, nem pra trás... Sentei no chão e algo dentro de mim me aconselhava: Realmente mudar "né" bom, fizeste isso porquê? Queres nos matá?! Mas uma chapada para minha velha era apenas petisco, estava mais para um abre apetite e eu tipo tinha boa pele para levar porrada. Como disse anteriormente ela tocava a minha alma, preferia tocar o meu ser psicológico através do ser físico. Suas cotoveladas, joelhadas e chutes de Muay Thai transcendiam o material para abraçar o meu espírito da assanhadice reverberando todas as palavras de apoio, conforto e juízo que ela proferia e que não sei se era por questões de rimas ou figuras de estilo terminavam sempre "ahm." Era algo tipo:
- Vais fazer mais isso, ahm? (5 chapadas)
- Você já não aprende, ahm? (Combo de 10)

Eram tantas perguntas retóricas que sempre que eu tentasse responder alguma, era como se estivesse a pedir para me matarem "cô" surra. Só sei que aumentavam a intensidade da punição a que estava a ser submetido. Aquelas porradas me deixavam sempre cada vez mais maduro. Tão maduro que eu não repetia as minhas besteiras e isso é que complicava a decisão da minha mãe. Eu tinha uma grande capacidade de não repetir as porcarias que fazia que até eu mesmo me respeitava. Nunca me bateram por ter feito algo duas vezes. Eram sempre novas colecções. Eu era tipo esses miúdos ricos que não repetem as suas roupas. Eram brincadeiras da Armani, lixos da Tom Ford, era tudo top de gama. Eu via o ar de dúvida nos olhos da minha mãe. Ela não acreditava que tinha em casa um génio do suicídio sempre com novas artimanhas para se matar.