sexta-feira, 6 de junho de 2014

200

Oh, meu, Deus! Estou que não me aguento de medo!

Volta e meia recebo a mesma mensagem de que a criminalidade em Luanda atingiu níveis alarmantes e que devemos ter muito cuidado. Segundo essa mensagem, que é só uma mas as pessoas passam e repassam como se fossem várias, diz que a polícia de Luanda soltou da cadeia 200 criminosos para matá-los cá fora.
Além do pânico e o caos geral que isso causou, algumas pessoas se indagam como o dito grupo dos 200 foi criado. Por azar ou sorte, tive a oportunidade de acompanhar o início desse movimento, e tudo começou com um grupo no WhatsApp. Sim, "incroyable" né? Mas yá, foi "memo" assim que tudo começou. Eram 15 horas e 40 minutos quando Chá Preto criou o grupo. Para poder escolher os melhores bandidos, houve um censo "bandidacional" para recolha dos dados e habilidades de cada quadro nacional que actua nessa área. Não só com o objectivo de ter as informações mais apuradas, este censo permitiu peneirar muitos bandidos incompetentes. Os critérios de selecção foram claros; os escolhidos deveriam ter 5 anos de experiência de assalto, boa dicção para não confundir os clientes durante o roubo, velocidade, ser um descendente de Sparta e ser um exímio topógrafo. 
Por sentirem-se mais fortes que os seus ancestrais, "300 spartanos," decidiram ser apenas 200 para dar mais garra à lenda que estavam prestes a se tornar.

Após a selecção dos membros, seguiram-se várias conversas com nexo e alto teor intelectual no WhatsApp que culminou com o primeiro encontro filantrópico no Doo Bahr com o objectivo de partilharem conhecimento e doarem armas aos gatunos mais necessitados. Lá, elegeram-se alguns cabeças do movimento 200 com destaque ao DP (director de projectos) que imediatamente criou um plano de acção e discursou para o grupo sob o lema: Não é culpa nossa se os que estudaram não conseguem se unir para um bem comum. O encontro ameno terminou e todos saíram de lá alegres com perspectiva de um futuro melhor. Eles finalmente haviam percebido que juntos seriam muito mais fortes.
A noite caiu e no e-mail de todos participantes caiu também a planilha de trabalho com a descrição exacta da função de cada elemento na organização.
Enquanto isso, um bófia fica por dentro da situação e agiliza a prisão destes mesmo energúmenos.

Epá...
Com a chegada desses duzentos elementos na Cadeia Central de Luanda, o que era um espaço verde, lindo e com conforto, tornou-se insuportável. Ficou tudo abarrotado, aqueles que já lá estavam há mais tempo, sentiram que a sua liberdade havia sido retirada, pois os 200 eram muito espaçosos e gostavam de mexer na coisa dos outros, tiravam livros sem avisar, rasgavam os colchões; eram uns "grandas" chatos.
Visto que a situação estava a se tornar cada vez mais incontrolável dentro da cadeia, a polícia achou por bem colocá-los cá fora. Como já lhes dava muita raiva e como é de hábito soltarem 500 bandidos na rua, porque não 200?