São vinte e uma horas e cinquenta minutos e eu estou a ver um monte de bombas de combustível cheias. Bem, cheias não porque até soam a vazias; elas estão abarrotadas. E tudo por causa de uma possível subida de preço nas tabelas do combustível. Desde manhã que o boato não pára de dar as suas voltas e agora, a noite, os cidadãos põem-se "a se matá cô corrida mais pras bombas"! Estão todos agitados como se fossem baratas e um dono de casa malfeitor tivesse colocado "shaltox" no ar. Elas, muito inteligentemente, foram abastecer como se abastecendo hoje significasse abastecer para sempre!
E é exactamente isso que nos traz de volta...
Esse grupo de energúmenos e energúmenas não conseguiram responder ou se calhar mesmo fazer as seguintes questões:
1. Abastecer hoje fará o quê?
2. Pouparei exactamente o quê?
3. Até quando terei esse combustível no meu depósito.
E no final, as mais importantes: Quanto vale o meu tempo? Quanto de combustível estou a gastar nesse engarrafamento?
Os que tentaram responder, após o auto-questionário, fizeram uma análise a curto prazo. Pois, a partir de amanhã e para todo o sempre amém, vai custar 200 Kwanzas ou sei lá mais quantos Lweis.
Essa mentalidade que está a ser demonstrada, espelha exactamente como a manipulação funciona e acima de tudo... Como deve funcionar. Essa récua toda acredita que irá poupar de tal forma que sentirá os ganhos dessa acção para os próximos 6 meses. Entretanto, não! Só que o maior desafio de um manipulador é exactamente esse. Como evitar que o seu sujeito tenha uma epifania e deixe de fazer o premeditado? Como fazer com que o óbvio não seja questionado?
Ao observamos o caso das bombas, temos as respostas todinhas aí pra nós, bem estendidinhas, esperando o sol raiar. É muito importante que o seu sujeito tenha uma sensação de ganho ou vitória a curto prazo. Ele tem de se sentir um investidor tipicamente angolano; daqueles que investem em Janeiro e querem ver todo o retorno do seu investimento em Março. E se parares pra analisar, é assim que as pessoas são enganadas! São atraídas e/ou iludidas pelo retorno imediato, por poupar hoje umas "nguirras" duns Kwanzas quando amanhã acabarão por pagar o devido valor e apenas sentir-se-ão ridículos quando forem estigados.
Um bom manipulador precisa criar estratégias que incitem essa corrida desesperadas às bombas ao ponto de ninguém questionar-se sobre o amanhã. Então, algo que podemos retirar directamente desses acontecimentos? Manter a informação do fornecimento como uma incógnita e dar um tempo limite. É inútil dizer à alguém para agir na hora antes que o tempo se esgote. Estarias a mostrar não só muita fraqueza, mas também, uma possível carência na demanda. Daí entra uma das componentes que eu mais adoro: O boato!