domingo, 22 de outubro de 2017

Cinquentinha

Eu te falho todos os dias, Mamã! Todos os dias que eu não posso te dar um Ferrari. Todos os dias que tens que ir bumbar por necessidade e não por vontade. Te falho todos os dias! Eu prometi que nos teus 50 eu já teria a solução pras nossas vidas. Quando eu tinha 7 anos e tu nos teus 29 me pegando pela mão indo pra Samba. Mal tínhamos onde ficar e o que dizias? Se estamos vivos é porque tem solução. Velha, tu não sabes mas nos meus 25 eu fiquei muito deprimido. No meu aniversário sentaste na minha cama como sempre e ficamos a falar dos planos que tinha pros próximos anos. PORRA! Ter dado conta que faltava muito me fez perder as esperanças mas o que me destruía era o teu olhar de orgulho. Olhavas pra mim como se tivesses feito tudo certo… E fizeste, Mamã! Mas eu te falho todos os dias! O ano todo foi rijo pra mim. Acordava com um nó enorme na garganta, mal conseguia sair da cama só de pensar. Sempre me ensinaste a ter paciência ante o desespero e te confesso que eu estava mais do que desesperado, sempre soube que conseguia, mas não sabia onde começar ou se teria paciência pra atingir o objectivo. Um dia tipo deste conta e me disseste gritando da sala enquanto eu saía de casa:
- Meu filho, não te estresses, vai correr tudo bem! – Abri a porta novamente e olhei pra sala e disseste:
- Não vá pela via fácil… Confie nos teus planos!

Aos 25 eu percebi que nos teus 50 eu mal teria um Lexus pra te dar e pra piorar… Nem poderei estar ao teu lado porque eu decidi redobrar o meu esforço pra te dar um 51 diferente. Não que seja a primeira vez que estejamos a passar longe um do outro mas dessa vez não tens nem o Márcio aí contigo. Quando fizeste 30, com o Márcio no teu colo apagavas as velas. O mundo todo contra ti porque tomaste uma decisão que até hoje a maior parte das mulheres têm medo. Éramos só os 3 no cubico. Nós 3 e mais ninguém! E a Mamã só dizia: Vocês estão comigo, não estão? Estão do meu lado, não estão? Os relevantes sempre aparecem e ficam connosco! Fui meter uns Kassav, Bana e David Zé que te kuyava bwé! E o David dizia pra sua amiguinha não chorar mais e que só queria lhe ver sorrindo. No meio do som ainda dizias: - Mauro, agora tens um irmão pra cuidar. Se eu morrer, você tem de lhe pôr nas costas e carregar contigo onde quer que seja. Eu entrava em pânico só de pensar. Como entro até agora só de escrever isso!

Nos teus 40 eu estava bwé emocionado! Dançamos bwé, na minha cabeça, 10 anos depois eu abriria a mão e te entregaria o mundo.
Sempre ficaste má comigo quando eu chorava ou reclamava por não ter algo que eu quisesse ou quando me frustrasse por não conseguir fazer melhor. Dessa vez não fica só má comigo, por favor! É que na minha cabeça eu havia planeado um granda boda pra ti e depois te pagar uma viagem pelo mundo. Do tipo: - Velha, esquece esse mambo. Teu mundo agora é novo, agora é outro! Meteste o teu filho aqui e agora é só relaxar!

Mamã, dizer que te amo é falta de respeito. Está acima disso! Formaste um cyborg, um Rambo, um Black Kung Fu Filipado, um Ti Kilometraji, um wi que não baixa a cabeça porque a mãe dele é que mandou! Eu sei que a vida melhorou bwé, Mamã! De onde estamos a vir, essa tua fé de dias melhores nos trouxe até aqui mas é irónico ver e perceber que a única coisa que eu posso te dar é exactamente a maior coisa que me deste, a vida! Por isso, minha velha, pra ti sou uma grande benção, mas pra mim, eu sou um grande falhanço! Mas estamos vivos… E se estamos vivos, então tem solução!

Feliz Aniversário, Mamã!

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Bomba de Combustível

São vinte e uma horas e cinquenta minutos e eu estou a ver um monte de bombas de combustível cheias. Bem, cheias não porque até soam a vazias; elas estão abarrotadas. E tudo por causa de uma possível subida de preço nas tabelas do combustível. Desde manhã que o boato não pára de dar as suas voltas e agora, a noite, os cidadãos põem-se "a se matá cô corrida mais pras bombas"! Estão todos agitados como se fossem baratas e um dono de casa malfeitor tivesse colocado "shaltox" no ar. Elas, muito inteligentemente, foram abastecer como se abastecendo hoje significasse abastecer para sempre! 
E é exactamente isso que nos traz de volta...

Esse grupo de energúmenos e energúmenas não conseguiram responder ou se calhar mesmo fazer as seguintes questões:
1. Abastecer hoje fará o quê?
2. Pouparei exactamente o quê?
3. Até quando terei esse combustível no meu depósito.
E no final, as mais importantes: Quanto vale o meu tempo? Quanto de combustível estou a gastar nesse engarrafamento?

Os que tentaram responder, após o auto-questionário, fizeram uma análise a curto prazo. Pois, a partir de amanhã e para todo o sempre amém, vai custar 200 Kwanzas ou sei lá mais quantos Lweis.

Essa mentalidade que está a ser demonstrada, espelha exactamente como a manipulação funciona e acima de tudo... Como deve funcionar. Essa récua toda acredita que irá poupar de tal forma que sentirá os ganhos dessa acção para os próximos 6 meses. Entretanto, não! Só que o maior desafio de um manipulador é exactamente esse. Como evitar que o seu sujeito tenha uma epifania e deixe de fazer o premeditado? Como fazer com que o óbvio não seja questionado?
Ao observamos o caso das bombas, temos as respostas todinhas aí pra nós, bem estendidinhas, esperando o sol raiar. É muito importante que o seu sujeito tenha uma sensação de ganho ou vitória a curto prazo. Ele tem de se sentir um investidor tipicamente angolano; daqueles que investem em Janeiro e querem ver todo o retorno do seu investimento em Março. E se parares pra analisar, é assim que as pessoas são enganadas! São atraídas e/ou iludidas pelo retorno imediato, por poupar hoje umas "nguirras" duns Kwanzas quando amanhã acabarão por pagar o devido valor e apenas sentir-se-ão ridículos quando forem estigados.

Um bom manipulador precisa criar estratégias que incitem essa corrida desesperadas às bombas ao ponto de ninguém questionar-se sobre o amanhã. Então, algo que podemos retirar directamente desses acontecimentos? Manter a informação do fornecimento como uma incógnita e dar um tempo limite. É inútil dizer à alguém para agir na hora antes que o tempo se esgote. Estarias a mostrar não só muita fraqueza, mas também, uma possível carência na demanda. Daí entra uma das componentes que eu mais adoro: O boato!

segunda-feira, 18 de maio de 2015

11 e 40

"Esse mundo não está bom!"

- O quê?! O que é que "num" tá bom?! O mundo? "Qualé esse mundo que não está fixe? É agora que esse mundo começou a "kuyar". Agora "axim memo" é que as "cuesas" estão no ponto.
Estás a ver quando o feijão de óleo de palma está pronto mas falta apurar pra "kuyar" mais?! Yá, o mundo está assim... Está a apurar! Se o mundo fosse molho, essa seria a parte em que colocariam o "muelele" na panela pra engrossar bem aquela lenha para quando o funge descair no prato; aquilo é só já se "matá côs sabor"... Porque "né" molho de brincadeira que essa funjada mundial anda a pedir. Esse molho estão a lhe fazer com muita calma, mas muita calma mesmo. O feijão então já nem se fala. Aquilo é "le fazê" no mínimo.

São 11 horas e 40 minutos na Terra.
O "mambo" está mesmo a cheirar bem. Começaram a cozinhar às 6, o pitéu das 12. É obra, "num brinca cô vida"! Toda a casa cheira à bom almoço. Aquele aroma de "macôco" paira no ar e até os mais constipados sentem o cheiro. Oh, que essência divina de se inalar. Fecho os meus olhos e sinto o prato de feijão de óleo de palma se aproximar com rodelas de batata doce ao lado e para a minha surpresa... Meteram também um bom kalafate de lado para melhorar a minha vida. A Terra anda com essas saídas: Quanto menos esperas... BOOM! Um lindo presente para ti. Não tem como não te maravilhares!

Eu olho para o mundo que me rodeia e grito "YES, conseguimos!" Finalmente temos as coisas do jeito que a gente sempre quis. E não vamos só vir aqui com muitas dicas e "dikelengos" ah porque não "memo" Sebem, você é pai grande! Vamos antes de tudo isso, Lá Ser Sinceros!

segunda-feira, 11 de maio de 2015

David Beckham

Era suposto entrar aqui a cumprimentar, mas só o faço quando me dirijo à pessoas dignas do meu respeito. O que evidentemente não é o caso aqui! Muito sinceramente, eu já não sei o que fazer com essas borboletas masculinas que têm sobrevoado o nosso espaço aéreo livres, suaves, frágeis e coloridas demais.

Quando tudo começou, era suposto ser só físico. Diziam que todos aqueles que se opunham às transformações capilares, dérmicas e ou comportamentais, eram não só retrógrados, mas também, preconceituosos. Eu admito que durante muito tempo julguei que fosse mero preconceito. "Afinale memo" não! Os "kotas" tinham razão... Esses costumes "mundelo-beckhaniano" não ficavam pela superfície física. Eles migravam e impregnavam-se na alma, hábitos, costumes e na psique do homem.

É com lágrimas nos quatro cantos dos olhos que hoje vemos que os homens são as garinas! São eles quem dão trabalho. Homens frutificaram-se e enquanto as mulheres se "masculinizam," os homens se "frutabilizam!" Frutabilizam, sim... Aquilo nem é afeminar! Em pleno século da saia curta, era das sem cuecas porque a tanga não pode marcar no vestido, são os homens quem dizem ter dores de cabeça, são eles que destratam as mulheres porque têm "problemas pessoais!"

Ora, Vamos Lá Ser Sinceros nessa lenha!

domingo, 24 de agosto de 2014

Meu Agradecimento à Todos Que Tornam Esse Blog Uma Realidade

Ouvia aquela voz 11 anos mais velha do que a minha olhando profundamente para os olhos dela. A calma com que ela falava e geria qualquer situação era confortante, transmitia calma e muita paz. Facilmente se percebia que ela já havia passado pelo desejo urgente de viver e agora estava na fase de contemplar tudo. Ela tinha essa habilidade de apreciar tudo como ninguém. Apreciava a comida, o vinho e eu. Sentia-me admirado por ela. Eu chegava todo cheio de energia e ela me mandava ter calma. O tempo parava logo ali. Ela dizia:
- Vem que eu quero te beijar, meu miúdo. Gosto quando chegas cheirando a vigor, encosta mais que eu quero te abraçar.
Era tudo dito de forma tão pausada que eu me sentia desprotegido. Ela despia-me a alma antes de deixar o meu corpo nú. Eu mal sabia o que dizer. Meus olhos caíam e um sorriso infantil emergia.
O corpo de uma mulher madura é diferente, sabe à responsabilidade, à privilégio, à maturidade; tenho a sensação que é mais quente também.

O blog levou-me para muitos sítios, mas não contava que me levasse para a cama de certas mulheres também, mas mulheres mesmo de espantar qualquer um. A primeira vez que falamos, senti logo uma energia estranha, como se estivéssemos a exalar desejo bruto. Eu juro que me aproximei com todo o respeito, porém, seria uma desfeita não cobiçar aquele conjunto de curvas finas.
No meio de tanta conversa, ela disse-me que por ter uma personalidade muito séria não se sentia cobiçada e que há muito tempo que não encontrava alguém que tivesse o potencial de a dar prazer puro. Eu ainda estava meio perdido, tentando perceber onde eu me encaixava. Em tom de brincadeira disse:
- Eu não vejo como é possível não seres desejada.
Logo em seguida me arrependo mas ela diz:
- Você me deseja, Mauro? Tu me queres?
Minhas pernas ficaram bambas, meus lábios secaram, senti minhas pupilas dilatarem.
Definitivamente ela só poderia estar a brincar. Soltei uma gargalhada descontrolada e disse:
- Quem não te deseja?
Ela voltou a repetir:
- Tu... Queres-me agora?

sábado, 16 de agosto de 2014

Crédito Habitação - O Sonho do Homem Próprio

Ano 2014 a.C, num mundo esquecido, perdido, perfeito, paralelo e longínquo, existia uma cidade que sua beleza lembrava as pérolas do Atlântico, sua formosura lembrava a sereia que enfeitiçou o mais bravo dos desbravadores e seu nome era de todo especial; chamavam-na de Kianda.
Em Kianda, tudo era uma maravilha. Após longos anos de luta, a elite que governava a cidade conseguiu sanar todos os problemas que afligiam a população. Durante muito tempo, os jovens lutaram muito para realizar o sonho da casa própria. Era duro se formar e depois não ter onde morar. Porém, com a sabedoria de Salomão, criaram programas que davam créditos habitacionais e construíram uma nova centralidade com vários prédios a que chamaram Centralidade da Kitamba. Com a entrada da Kitamba em cena, a casa própria deixou de ser um sonho, tornou-se uma realidade e todo mundo vivia feliz em direcção ao Para Sempre. 

Bem, essa viagem histórica poderia acabar aqui mas sinto-me obrigado a contar-vos sobre os grandes movimentos de solidariedade que surgiram em Kianda. Após terem todos os seus problemas resolvidos, as citadinas sentiram-se assoladas, senão mesmo flageladas, com uma escassez periclitante de homo-sapiens. Se vos dissesse que estava duro ter homem naquela época, estaria a ser muito mentiroso. Na verdade, os sábios daquela era não davam adjectivo nenhum à situação. Diziam apenas que a situação estava. Sim, a situação estava! Era um assunto o qual era proibido cochichar sequer pelos cantos da nobre cidade.

A satrapia que viveu momentos de grandes alegrias e glórias, andava muito triste, pois os homens estavam em via de extinção. Se homens fossem água, muitas mulheres jamais voltariam a tomar banho. Algumas que conseguissem, teriam que tomar o seu maravilhado banho "cô" caneca e só chegaria para duas safas. Como era um problema que estava fora das esferas governamentais, o Executivo não tendo formas de resolver a situação em massa, ajudava onde podia em capacidade pessoal. Assim, começou então um grande movimento de solidariedade denominado "Se Ninguém Sabe, A Gente Come." Esse movimento solidário permitiu que muitas mulheres comessem no prato das outras embora a maioria que participava nesse programa de cariz humanitário não hesitava em cuspir na cara de quem admitisse se beneficiar de tal plano também.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Pouco Tempo É Muito Tempo

Há duas semanas atrás eu completei mais uma risonha primavera. Wow, que lindo, que fofo da minha parte... Consegui fazer mais 365 dias na terra e nunca me senti tão velho em toda a minha vida.

Obviamente, muita gente perguntou quantos anos eu havia feito, e sinceramente; pesava-me a boca, a consciência e o corpo ao ter que dizer a minha idade. Fogo... Eu não acredito que agora eu tenho a idade que tenho e sinto-me obrigado a falar a verdade; logo eu, um mentiroso fiel. Senti a frescura que vem de Benguela e bate no comportamento das mulheres quando se referem à sua idade.

Pois hoje estava eu a conversar com uns amigos, num grupo de chat, e um deles teve a audácia de dizer que eu só tinha 25 anos. "Peraí, peraí, alto lá!" Como assim, só?! Só 25 anos! Ah porque se tu te sentes velho, eu que sou mais velho que tu, sinto-me o quê?
Bem, caro amigo... Eu estou-me nas tintas para o que sentes. Cada "quale" aqui sente o que lhe apetece. Estás a dizer que 25 anos é pouco porque tens mais? E daí?! Vamos Lá Ser Sinceros: