segunda-feira, 8 de outubro de 2012

3 Coisas Que Eu Não Sei Fazer

Confesso logo de primeira que tenho inveja de todos amigos meus que sabem falar francês! Todos sem excepção!

Francamente, fico extremamente mau da vida porque eles tentam transparecer que é a coisa mais simples do mundo. Eles falam como se não existisse idioma mais fácil do que francês. É como falar "gugudadá"! Existem uns ainda, que dizem algumas palavras só pra verem mesmo o meu semblante se petrificar na ignorância. E o pior de tudo, ainda têm a empáfia de admirar em alto e bom som: Não acredito, não falas francês?! - E eu fico matutando em minha cachimônia, desconfiando seriamente que por culpa deles eu não aprendi a falar francês até agora. Eles são os meus bruxos. Eles pensam que ao dizerem que não acreditam, eu vou começar a parlar essa lenha repentinamente por mero motivo de crença. Isso aqui não é igreja, e eu não sou Jesus. Podem continuar incrédulos.
O meu desgosto se intensifica para ódio quando ouço um amigo cantando "Ne me quitte pas", um som perfeito de se ouvir quando a namorada mandou acabar, ou está tudo a correr mal, até o momento em que aparece alguém e corta o teu momento de ignorância artístico-musical para cantar, como se eu ouvindo da cantora não fosse suficiente para que eu percebesse que nem um "oui" estou a entender; corto a narração por uns instantes para agradecer a Google porque se dependesse de mim eu escreveria "Nê mê kite pá" que eu iria fielmente traduzir para "Num me toca pá". Mas voltando ao assunto... Está aí o meu amigo cantando, algo que parece ter sido derivado de hieróglifos egípcios, deixando as palavras escorregarem da boca como se estivesse a babar óleo de soja, ou simplesmente fluídos salivares; não tropeça, não se engasga, muito menos perde um verso, para no fim virar para mim e dizer: "Granda" letra, nê?
Aiê? Tua dica é essa? Eu sou tão crú nessa língua, que escrevo "coma titá pele" e acho que isso quer dizer "como está a pele". E ninguém me tira da cabeça que francês não tem gramática. Um monte de acentos, apóstrofes, "tê" mudos da cara, eu não sei porquê que eles não são sinceros. Quando é para esconderem algo, quando não quiserem que ninguém saiba algo, não precisam dar volta. Basta dizer que é proibido. Agora, fomentar raiva é que não dá!
É chato ter crescido a cantar "Tunemon" para depois de muitos anos, quando já adulto, aparecer alguém e dizer: Olha, não é "Tunemon", mas sim "Tu me manques"! Sin-ce-ra-men-te!
Outra cena que me irrita imenso, é ver que por tudo e por nada, metem-se em grandes gargalhadas. Principalmente quando tem alguém que não percebe nada. Estou a perder o gosto que tinha deles! Isso tudo por fazerem algo que eu não sei fazer.

Quando se trata de mota, eu não sei se o que mais me chateia é ouvir o barulho que aquela geringonça faz, as miúdas a irem à loucura, ou o facto de eu não saber conduzir uma mota. Na verdade fico confuso, só sei que não gosto, não gosto e nem gosto de ver aquele focinho impávido com a qual os motoqueiros passam pelas ruas. Fazem-se já de grandes corajosos, eu só fico na retaguarda apertando o meu "derrière", vulgo "reggaenaile" pra ele cair e eu ir lá a correr para gritar má! "Bô", se deste! E rolar no chão de tanto rir.
No momento então em que vejo uma mulher a se derreter por causa duma mota... Eu "memo" até já nem sei! Me imagino com uma caçadeira mas que tem apenas uma bala e eu não sei quem hei de matar, a moça ou o indivíduo na mota. Parece-me que mulher tem mesmo coração de manteiga e o barulho da mota é um micro-ondas. É que elas se derretem sem maneira. E fico bem mau ainda, quando me deparo com um motoqueiro que não sabe aproveitar as oportunidades que a mota lhe deu. Dá-me vontade de suplicar pela morte do "madiê". Não devia ser permitido.
Eu acho que vou concorrer à presidência da República só para distribuir motas à todos pais de forma a eles habituarem as suas filhas nas motas.
Essa brincadeira tem que acabar.
Antigamente, as "candumbas" se passavam com uma bicicleta. Até hoje eu me bato na parede, procurando razões que fizessem uma menina gostar de alguém por causa duma bicicleta. O que é que a bicicleta tinha de tão sedutor? Que desespero era esse? E mesmo os que andavam de "bina" tinham que saber colar (levantar o pneu de frente, já que vocês da cidade insistem em não saber calão). Porém, até aos dias recentes, eu não aprendi a colar com uma bicicleta, portanto, na minha época das eu não via nenhuma "canuca" a olhar pra mim com gosto, o que dizer duma mota que eu mal sei pegar no volante.
Isso é algo que eu mesmo não sei fazer, e talvez se um dia eu aprender a trancar mais a cara, ou meter uma "chipala" de arrogante, eu consiga conduzir uma mota com perfeição. Mas por enquanto...

Vamos Lá Ser Sinceros, se há algo que eu realmente não sei fazer, este algo chama-se cantar. Eu tenho plena certeza que me meteram uma "tala" (mina tradicional oriundo do feitiço) na garganta. Não acerto nenhuma nota.
E quando ligo a rádio e ouço um sabão a cantar a toa. Mudo para televisão e vejo um sapato no Angola Encanta; envolve-me uma inveja de dar dó. Como é que eles conseguem? Como? Como? Como? Como pode alguém cantar tão mal e mesmo assim darem-lhe espaço?! Indago-me se eu não sou um grande potencial. Eu acho que se eu enveredar nisso, serei um sucesso. Porque do fundo do meu coração, e nunca fui tão sincero assim, eu canto mesmo mal! Mas vejo gajos piores do que eu a darem carga. Diga-se de passagem que o Angola Encanta ostenta o título de ser o único programa a passar em Guantánamo Bay. Usado para torturar os terroristas mais carrancudos.
Porém, nem tudo é mar negro. Há sempre aquelas pessoas que cantam mesmo de verdade. Eu lhes olho só assim de "caxexe"... Se fosse eu!? Hum! Já era! Seria serenata com todo mundo. Iria matar a minha mãe "cô" serenata quando ela fosse me pedir o troco do pão, ou mesmo "bumbar" uma acapela divina para a minha namorada quando ela fosse dizer: Estavas aonde que não me atendeste o telefone? Seria um show tremendo.
Há mulheres por aí que só pela voz, um gajo até pensa em dar casamento. É de largar tudo por ela, e quando fossem me apontar o dedo, eu diria: Falam, por não a terem ouvido a cantar. Eu acho que nem mesmo a minha parceira iria "futucar". Eu iria lhe dizer: Fique calma, já já, hás de lhe ouvir, e vais me dar razão!

Mas o dom de cantar, Deus não tirou de mim. O Senhor deixou perder mesmo.
E cá estou eu. Mal consigo ter inveja de quem tem dinheiro porque essas 3 pequenas coisas dão cabo de mim.



"Esse texto foi adaptado de uma crônica que li em 2001 no Jornal de Angola, na época em que ainda era credível aprender a escrever lendo um jornal. Já não lembro o nome do cronista, apenas não esqueci esse texto. Eis o meu tributo"

6 comentários:

  1. das-me raiva mazeh, escreves tão bem, que as vezes eu pergunto... mas ohhh Deus e eu sei fazer o que? possas é que nem da tempo para ter inveja de quem tem dinheiro, porque a tua escrita acaba comigo. Tua fã yah (mas não fica convencido miuxxx)

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    1. Hahahahahahahahaha... Tânia, quando li a última frase, o meu focinho esticou bwé como se fosse falar francês. Eu sempre te digo a mesma coisa: Obrigado. Mas agora se eu ficar convencido, a culpa é tua!

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  2. Muito bom... Não te preocupes com as coisas que dizes ñ saber fazer! A tua escrita supera tudo...

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    1. A inveja anda mesmo rija desse lado. Mas acredito que também tu tenhas algumas coisas que não saibas fazer e que não tem como não detestares aqueles que saibam fazer em condições.

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  3. Lol!!
    Ton post me fait mourir de rire! Très bien écrit! Bravo!

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