terça-feira, 28 de maio de 2013

A Bela Adormecida

... Não tem como nos mentirmos...
Nenhuma estória outrora criada, teve a capacidade de ser tão realista quanto o conto da Bela Adormecida
Semelhante à qualquer outro conto de sucesso, várias foram as versões feitas e espalhadas por aí. Entretanto, nenhuma contou em detalhes o que realmente aconteceu.

Como muito bem sabemos, o nome do príncipe da estória mundialmente conhecida era Príncipe. Sim, leste bem! Príncipe, man Petsa para os mais chegados, era na verdade filho do grande soba da Camabatela, aí na Ambaca, Kwanza-Norte.
Ele era um jovem conhecido por nunca desistir de nada e de gostar de novos desafios. Uma das vezes enquanto andava pela vila, acabou encontrando a Joaquina do "Fió-Fió", a maior fofoqueira da província. Como toda boa fofoqueira, Joaquina nunca mentia; só falava à toa. Foi assim que no meio de tanto "peixe" com o "man" Petsa, Joaquina contou então a estória da miúda do Lobito que de tanto dar não aos homens que a paqueravam, principalmente os mais-velhos que metiam olho em tudo, foi-lhe lançada uma "pemba" que a subjugou num sono profundo há mais de cem anos da qual só despertaria se um homem de verdade a conquistasse e a pegasse com pujança. Man Petsa escondia sua ansiedade enquanto a Fió-Fió escamava o seu peixe e em tom de realce o disse: "Mô" irmão, e "num" é porque às vezes... "Memo" com esse tempo todo a dormir, a miúda continua no "micate", se já tivessem criado máquinas fotográficas, ela só teria fotos com cara de pato.
Sem mais conseguir se conter o Príncipe grita: - Ai ua kwata! Una mumu i ku kia - O que na língua desses da cidade quer dizer: "Ai mexeram! Isso aqui é para já!"
Determinado, fez suas trouxas com roupas da Lutuíma Vunge e grifou para a grande viagem.
Ao chegar todo empoeirado no Lobito devido as condições das estradas que já andavam todas esburacadas mesmo antes do colono chegar em Angola, e assim seriam mantidas por motivos culturais; as pessoas interpelaram o jovem e quiseram saber de onde vinha pois não era comum haver estranhos naquela cidade. Então, ele disse:
- Eu sou o Príncipe de Camabatela e vim de muito longe porque ouvi falar da vossa Belita.
Todo mundo congelou. De tanto partir corações, seu nome havia sido proibido na cidade.
Alguém ainda disse: - Esse amarfanhado é assanhado. "Esse é homem é quem é daondê" para falar da Belita?
Outro cochicha no ouvido: - Esse é "mbora" príncipe, príncipe da Camabatela.
Começaram então a deturpar tudo. O jovem destemido passou de Príncipe para príncipe! Em meio a um pequeno tumulto decidem avisá-lo que todos que tentaram a Belita não conseguiram e se apaixonaram perdidamente. Desconfiava-se que ela havia sido banhada na "menha da mukwenha" (água da mukwenha). Porém, isso não foi suficiente para travar o "man" Petsa que pediu que o levassem ao bairro aonde vivia a linda moça que dormia há cem anos.

Chegando na casa de adobe na rua do Castelo, como era de costume, anunciaram à Bela que havia um príncipe que viajou terras e mares, aguentou enchurradas e suportou muito burro na via para a ver e assim eles finalmente se encontram. Quer dizer, na verdade ele encontra-a, visto que a mana Bela estava a dormir. Olhando para ela, enquanto dormia, man Petsa se apaixona e preparava-se para dar um beijo quando eu decido parar as coisas para sermos sensatos.

Epá, man Petsa ou Príncipe, ou sei lá o que és, Vamos Lá Ser Sinceros! Tu não estás a ser sério. Assim não!
Como é que tu te preparas para beijar uma jovem que não lava a boca há mais de cem anos. Aqui não há porque "uh" ou "fu". São cem anos de beleza intacta sim, mas a Belita não lavou a boca esse tempo. Vais me desculpar, mas assim não dá. Aonde está a higiene? O cuidado que ela deveria ter com ela mesma? Estás a pensar que beleza é tudo? Isso porque ainda não falei dos tantos homens que como tu, também ouviram falar e lhe beijaram. Ham, olha-me para isso. Cem anos sem trocar a roupa ou ter depilado. Meu irmão, são pontos a se ter em conta.

Man Petsa parou, ouviu as minhas dicas, deu-me toda a razão e então com toda a sensatez do mundo beijou a Belita...
Eu sei que ele só fez isso para me provar que os homem são mercenários. Não importa a circunstância se for considerado alvo ele vai tentar abater e ponto final.

Ainda existem essas damas que dizem: Ah porque não, esse vestido não ficou-me bem. Ninguém vai olhar para mim... Você "tá brincá cô vida" só pode! É uma tremenda duma boa ofensa à todos seres másculos desse imenso universo o facto de insinuares que um mero vestido te tornaria invisível, pois, só assim um homem não olharia para uma mulher. Quando não estamos a olhar para vocês é porque certamente existe um espécimen feminino superior. E não essa conversa de vestido, de aparência "bonho", e "num" sei quantos anos sem depilar. Homem está nem aí desde que a Bela esteja disposta a voltar a dormir com ele.
Não, pare imediatamente! Eu não estou a dizer que homem avança em tudo que respira, ou qualquer tipo de mulher. Ele avançará se considerá-la salutar à sua cadeia alimentar. Para vocês verem, no conto da Disney, ele chega a beijá-la também. E ela com cento e tal anos sem sequer se mexer, faturou um "madiê"... Para vocês verem como esse mundo é injusto, tantas por aí se batendo e não conseguindo, a Bela só precisou dormir e esperar que a fofoca se espalhasse. Sem dizer, obviamente, que este conto é a prova mais do que clara de que a mulher muita das vezes só precisa estar no local.

Pois aí depois do beijo é aquela coisa que todo mundo já conhece:
O Príncipe passou a amar muito a Belita, ela muda-se para Camabatela e descobre que Príncipe era o nome de registo do "man" Petsa, que no entanto deu condições, estudo, elevou à moça à um patamar muito acima dele, ela passou a experienciar novos ares, conheceu um príncipe de título e não de nome fez-se de sonolenta, o outro beijou, ela acordou, faturou e deixou o man Petsa na rua da amargura.

15 comentários:

  1. Eheheh... E eu a espera p'ra descobrir qual foi o "azar da Belita"...!!

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  2. ... Perfeito !!!!

    O enquadramento, o desenrolar e principalmente a mensagem principal, escreves estupendamente Mauro ! Parabéns !

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    1. Não tem como não me derreter com um comentário desse género, Castanha! Obrigado

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  3. Bravo! Esse conto tem de ser conhecido por aí... Bem adaptado a nossa realidade. Aplaudo a forma como misturas linguajares diferentes para conectares com várias audiências. Excelente!

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    1. Acho que dizer obrigado não chega para agradecer o teu comentário, mas não tenho mais nada para dizer senão mesmo Obrigado!

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    1. Sheila, quem sabe daqui a dias não sai um conto falando de kindumbas!

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    2. olha, olha eu ficaria muito feliz, só espero me encontrar nele de uma forma divertida :)

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  5. Ahahahaha Mauro tu escreves com cabeça, tronco e membros! Impossível o leitor cansar-se no meio da leitura! :):)
    Muito bom!

    (Quero ler o conto de kindumbas)!!! :)

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    1. Luaia, tu... E eu que achei que tivesse sido apenas um devaneio! Posso agradecer?

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  6. Maravilhosamente bem adaptado MS. Nao sei + o k comentar porque os contos falam por si, consegues captar a nossa atenxao e no final deixar sempre uma mensagem construtiva. Ass: VT

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  7. O teu enquadramento nessa historia foi bastante idóneo ao nosso mundo moderno.
    Parabéns, e espero ler nos próximos dias ou anos um conto teu, tens muito talento.

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  8. Çô Mauro começa a avisar ya ... apesar de mto mto permita me dizer mto longo, pode haver a necessidade de certas pessoas (principalmente os homens) necessitarem de instrumento extras (toalhas, papel higienico, dentre outros) sem esquecer, que o local pode não ser o masi indicado para a leitura e devida acompanhamento, sem esquecer que isso é para maiores de 12 anos apenas, Sinceramenteeeeee, vai ser bom assim noutro lado. (att: não esquecer os pontos anteriores a considerar nas futuras publicações iguais) lol!!!! Jessica Castro

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