sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

O Rei dos Bandidos

Poucas coisas me fascinam tanto nesse mundo como a figura de um vilão. Gosto da forma como admitem os seus erros e se dedicam a errar. Os vilões fazem-nos sentir mais humanos. São eles nos filmes que tiram um pouco do ar de ficção e dão-nos a possibilidade de cogitar diversas situações na vida real.
O que seria de um filme de acção sem um vilão? Talvez seria um protagonista dando cabo de um monte de personagens sem valor nenhum e no final, tudo acabar com a possibilidade de uma continuação, pois nada relevante foi conquistado durante o desenrolar da estória. Porém, isso tudo muda quando temos um vilão na estória. O enredo ganha sumo e passa-se então a ter um objectivo que uma vez atingido, permite assim, concluir a estória em grande. Mas isso, isso é no filme, onde tudo acaba. Na vida real...

A vida tem sempre um grande problema que quando solucionado, percebemos que nunca foi tão grande assim. Esses obstáculos fazem-nos continuar a viver com entusiasmo e passar por cada nível cientes de que um dia chegaremos na linha do horizonte, que beberemos a água do oásis, que jogaremos "mete-mete" na linha do Equador... Pois o impossível motiva o ser humano a seguir em frente! A possibilidade de fazer algo que nunca foi feito fascina, intriga, cria um grande objectivo para o filme da vida.

Só que Vamos Lá Ser Sinceros:
- Há dias estive no Festival de Cannes e vi um filme inédito intitulado Angola em que o rei dos bandidos chamava-se sexo. "Maji ondê" que já se viu sexo ser o rei dos "bande"?!

A película cinematográfica narrava várias estórias que terminavam quando o rei dos bandidos fosse morto. Uma das estórias mais marcante foi a do Camelo. Camelo era um jovem que fazia das suas tripas, seu coração para conseguir sexo. Sempre com conversas fúteis muito bem elaboradas, entupia os ouvidos das mulheres à procura do bandido. Na sua óptica, a única forma de ser marcante na vida de uma mulher era por intermédio da extracção da sua água mineral.
Coitado do jovem, mal sabia que isso não era o suficiente para ser lembrado por uma mulher. Este personagem que era carinhosamente chamado de Boneco, morava no Rocha. Era um especialista em conseguir nada com as mulheres, sua inabilidade com elas devia-se muito ao facto de não conseguir dissimular os seus desejos carnais. Não podia ver uma beldade que sua boca se escancarava que nem uma hiena, babava abertamente como se a mulher fosse um lanche. Como era de esperar, só espantava a caça com seu descontrolo natural e uma vez ou outra lhe caíam umas "fesadas".
Camelo nunca percebeu que as mulheres que se envolveram com ele, davam-lhe a bainha mas nunca a alma... Mulheres, e principalmente as angolanas, não entregavam a alma à qualquer "sapatero!"

Só que o filme não ficou por aí... Contou também a vida da Sonhadora, seu nome em hebraico era Numbatebem.
Sonhadora, era aquela mulher que fazia do "tundimbo" um anzol de relacionamento. Ela sempre pensou que a arma certa para matar o perdiz e arrastá-lo num relacionamento era fazer-lhe esperar muito tempo para dar o bife. Ela pensava que desse modo, iria ganhar o jogo. Só que aquilo estava tipo 35 e ela como não girava, lhe matavam sempre na casa.
A coitada da Sonhadora só atraía gajos tipo o Boneco que só queriam sexo dela. Passava dias e noites se perguntando a razão, mas não percebia que para ela o tundimbo era o seu rei dos bandidos, logo quando os artistas "bondavam" o gajo, já não viam motivos de continuar e acabavam subindo letras que culminavam com um FIM! Ela não percebia ainda que de uma certa forma, ela mostrava que falar no microfone de alguém era a coisa mais difícil de se obter dela. Sendo assim, muitos bonecos metidos a atletas organizavam olimpíadas gregas só para superar esse recorde. Oh, a pobre da Numbatebem... O seu filme sempre acabava depois do coito. Era muito triste. Ela mal percebia que tinha uma alma rica e uma mente atraente. A preocupação dela era só com o chefe dos bandidos... Só que havia muitos artistas sedentos por vingança!

Enquanto via o filme, pensei que estivessem a banalizar o sexo. Só que...

Homens são cegos que gostam de ver mulheres. Têm um quadro cheio de informação em braille mas escrita à giz; se apalparem para entenderem o que lá está escrito, perdem a informação. Nem num mês só de Domingos conseguiriam ler; mas tentariam! E é isso que as mulheres são: - Um mar de informações e vivências não partilhadas. Têm a faca e o queijo na mão, mas preferem cortar os seus próprios pulsos.

Em Angola, o filme, bandidos atrás de bandidos eram mortos, as cenas terminavam muito cedo mal se desenvolviam, uns actores fugiam, outros queriam continuação e o foco era o mesmo... Sexo! Enquanto isso a vida aqui fora continuava com o foco na alma!

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Língua de Cão

Wô... Hoje os cães vão ladrar. Aquele que trouxe a língua deles para os livros se foi embora. Aquele que ladrou as "malambas" de todos eles nos livros, bazou "mbora"! E agora?! Quem continuará com a língua dos cães? Só sobraram já modas de Tamoda, eu também não sei ladrar. Cresci ignorando a língua dos que vinham bem lá atrás do passado até conhecer o diplomata dos cães.

Aquele kimbundu e umbundu no meio de tanto português era bom demais, era a "mbunda" grande de uma mulher a desfilar nas ruas esburacadas dos "musseques" de Luanda. Eh, afinal aquela é a língua dos contos vivos, estórias com gostos, vida dos "kimbandas" e xinguiladoras. Aquele então que foi embora criou filhos de muita gente, seus contos saiam do papel para a mente, tinham cola. Assim então, quem mais vai falar dos vários Filitos que andam por aí? Quem mais vai se atrever a roubar os corações das Mananas que se enlouquecem à cada amor perdido?
Quem não tinha então problemas em falar dos seus discursos, bazou! Bazou sem tirar o feitiço das nossas bolas que têm medo de ser originais, as bolas continuam com feitiço de serem falsas. Não somos mais originais de saco. Hoje vamos ladrar... A ironia se foi, o sarcasmo está deitado no chão. Assim agora então, ninguém mais vai falar para ser entendido, vão falar e escrever para estarem certos.

Ua... Agora que voltamos a ser finos... O mato, o bairro, o fino que não diz de onde vem, aquele que com uma esposa em casa vai fazer pedido na segunda, a que fez feitiço para ter homem, aos Kahitus que ainda se arrastam e "ngombelam" filhas alheias, tudo isso vai bazar com ele. Tudo isso voltará a ser palavra do poeta com O. Tudo isso se fechará!
Mas quando Vossa Grandiosidade chegar onde foi, manda só alguém para voltar a meter a língua de cão na folha de papel para abrir a mente daqueles que decidiram miar. Vai bem!

(... nós, que o nosso liceu foi no arranjo da estrada, carregar sacos, apanhar algodão, rachar lenhas, e o pagamento bofetada e pontapé no rabo, pela máquina colonial, e a Universidade foi a cadeia, compreende-se, portanto, que o mais podemos oferecer aos leitores são as imagens que recolhemos durante esses anos de observação directa de factos vividos na sanzala, sem preocuparmo-nos com rendilhados e o estilo de bom português de filhos de escritores. Sou escritor de MULALA NA MBUNDA, misturando português, quimbundo e umbundo. (Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem)

Eu sou o único pUeta de kimbundu
que se escreve com “U”
no primeiro ano da independência
porque com “O” seria um pUeta com boca fechada
e não gritaria o “VIVA ANGOLA”...

- Uanhenga Xitu)