quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Língua de Cão

Wô... Hoje os cães vão ladrar. Aquele que trouxe a língua deles para os livros se foi embora. Aquele que ladrou as "malambas" de todos eles nos livros, bazou "mbora"! E agora?! Quem continuará com a língua dos cães? Só sobraram já modas de Tamoda, eu também não sei ladrar. Cresci ignorando a língua dos que vinham bem lá atrás do passado até conhecer o diplomata dos cães.

Aquele kimbundu e umbundu no meio de tanto português era bom demais, era a "mbunda" grande de uma mulher a desfilar nas ruas esburacadas dos "musseques" de Luanda. Eh, afinal aquela é a língua dos contos vivos, estórias com gostos, vida dos "kimbandas" e xinguiladoras. Aquele então que foi embora criou filhos de muita gente, seus contos saiam do papel para a mente, tinham cola. Assim então, quem mais vai falar dos vários Filitos que andam por aí? Quem mais vai se atrever a roubar os corações das Mananas que se enlouquecem à cada amor perdido?
Quem não tinha então problemas em falar dos seus discursos, bazou! Bazou sem tirar o feitiço das nossas bolas que têm medo de ser originais, as bolas continuam com feitiço de serem falsas. Não somos mais originais de saco. Hoje vamos ladrar... A ironia se foi, o sarcasmo está deitado no chão. Assim agora então, ninguém mais vai falar para ser entendido, vão falar e escrever para estarem certos.

Ua... Agora que voltamos a ser finos... O mato, o bairro, o fino que não diz de onde vem, aquele que com uma esposa em casa vai fazer pedido na segunda, a que fez feitiço para ter homem, aos Kahitus que ainda se arrastam e "ngombelam" filhas alheias, tudo isso vai bazar com ele. Tudo isso voltará a ser palavra do poeta com O. Tudo isso se fechará!
Mas quando Vossa Grandiosidade chegar onde foi, manda só alguém para voltar a meter a língua de cão na folha de papel para abrir a mente daqueles que decidiram miar. Vai bem!

(... nós, que o nosso liceu foi no arranjo da estrada, carregar sacos, apanhar algodão, rachar lenhas, e o pagamento bofetada e pontapé no rabo, pela máquina colonial, e a Universidade foi a cadeia, compreende-se, portanto, que o mais podemos oferecer aos leitores são as imagens que recolhemos durante esses anos de observação directa de factos vividos na sanzala, sem preocuparmo-nos com rendilhados e o estilo de bom português de filhos de escritores. Sou escritor de MULALA NA MBUNDA, misturando português, quimbundo e umbundo. (Os Sobreviventes da Máquina Colonial Depõem)

Eu sou o único pUeta de kimbundu
que se escreve com “U”
no primeiro ano da independência
porque com “O” seria um pUeta com boca fechada
e não gritaria o “VIVA ANGOLA”...

- Uanhenga Xitu)

4 comentários:

  1. RESPEITO..
    Uanhenga Xitu, eterno pai grande da Literatura Angolana!

    Rosene Maura!

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    Respostas
    1. Eu apesar de não o ter conhecido, sempre lhe idolatrei!
      Mesmo que curto, quebrado e sem nexo; tinha que fazer uma homenagem!

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  2. Mauro!!!!!!!!!!!! E que homenagem... Senti a alma dele nesse teu texto!

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